Distúrbios funcionais gastrointestinais, atividade física pós-Covid19, vacinação, doenças respiratórias e hematúria foram os temas que fizeram com que os simpósios de Pediatria do VII Congresso Médico Unimed-Rio fossem os mais concorridos. Salas cheias, tanto de manhã quanto à tarde, para aprender, se atualizar trocando experiências e vivências em temas relevantes no dia a dia dos consultórios e que são, claro, importantes para a saúde das crianças e adolescentes. Um fato dever ser destacado em todas as apresentações e debates: a importância fundamental da anamnese e do exame físico dos pacientes para a adequada condução da assistência.
A atividade física pós-Covid 19
“Hoje em dia, não começamos perguntando se a mãe amamenta no peito, mas se teve Covid”, observou Ricardo Barros no início de sua apresentação sobre atividade física pós-Covid. Ele destacou que a pandemia trouxe mudanças de hábitos que têm efeitos na saúde e, também, pode deixar sequelas naqueles que tiveram a doença.
Por isso, salienta a necessidade do retorno cuidadoso às atividades físicas. “Em casos leves e moderados é preciso esperar de duas a três semanas após o término dos sintomas para liberar a criança e o adolescente para retomar a atividade física”, destacou observando que a atenção deve ser redobrada em pacientes com doenças pré-existentes. “O retorno, nestes casos, também precisa ser gradual, necessitando de pelo menos 4 semanas para atingir o ritmo anterior à covid”, completou.
Ricardo, destacou a informação de um estudo recente divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), para a qual todos os pediatras devem se atentar. A fadiga está, segundo o estudo, entre os sintomas prevalentes em crianças e adolescentes com Covid longa.
“Depois do artigo, com este novo dado, vamos ter que refletir e ter atenção. Mas algo é certo: cada paciente com Covid é único, deve ser avaliado individualmente e o retorno às atividades físicas deve ser baseado em uma abordagem sistêmica e ser gradual”, resumiu.
Distúrbios funcionais gastrointestinais
A intensa programação científica voltada para a Pediatria contou com a apresentação de Sílvio Carvalho sobre distúrbios funcionais gastrointestinais. Ele contextualizou historicamente o tema, explicando que a Fundação Roma publicou, em 1994, o Critério de Roma sobre distúrbios funcionais gastrointestinais. Em 1999, um segundo Critério passou a incluir crianças e adolescentes e, em 2006, um terceiro passou a tratar também de lactentes e crianças em idade pré-escolar.
“Tudo isso foi muito importante para estabelecer território em termos de diagnóstico das doenças funcionais sem precisar lançar mão de nenhum tipo de mecanismo de exame complementar”, comentou Sílvio. Ele contou que, a partir dos Critérios de Roma, vários estudos epidemiológicos foram feitos.
Com estes estudos chegou-se a dados como a prevalência geral – de 25% a 30% – e a identificação dos distúrbios mais comuns. Entre lactentes e pré-escolares encontramos regurgitação, cólica e constipação. Já escolares e adolescentes, constipação, intestino irritável e aerofagia. Silvio discorreu sobre cada um destes distúrbios mais comuns, destacando sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento. Lembra da pouca necessidade de tantos exames, como a ultrassonografia abdominal solicitada em demasia.
Salienta o fato de não haver tratamentos específicos e ressalta a não efetividade comprovada do uso dos probióticos, muito sugeridos na atualidade e que não possuem, ainda, estudos de eficácia e segurança.
Talvez haja no tratamento um denominador comum, que passa pela função do pediatra em procurar tranquilizar e amenizar o estresse e a ansiedade dos pais. “É preciso muita conversa e paciência”, pontuou Sílvio Carvalho.
Imunização em crianças e adolescentes
Falar sobre Covid traz à mente, quase que instantaneamente, outro assunto: vacinação. Mas se a vacinação contra Covid entre adultos e adolescentes atingiu bons níveis, entre crianças ainda há muita polêmica e desinformação. Um movimento que se reflete também na cobertura vacinal de outras doenças, com as taxas de imunização mais baixas dos últimos 30 anos.
“Nosso problema é muito grande. O Estado do Rio de Janeiro é o segundo estado do país com menor cobertura vacinal e nós precisamos fazer alguma coisa”, destacou Isabella Ballalai. Para ela, o caminho para reverter tal situação passa pelo entendimento de um movimento denominado hesitação vacinal.
Ela destaca que este não é um movimento novo. A hesitação é anterior à Covid, mas ganha força com informações novas, políticas novas e vacinas novas. Além da propagação de informações falsas. “Há muito mais mensagens contra do que a favor. Nós não conseguimos investir dinheiro em comunicação, mas o antivacinismo, não só investe, como ganha muito dinheiro com isso”, afirmou Isabella.
Neste cenário, o papel do médico é fundamental. Para isso, é imprescindível ter empatia. “É preciso receber a família com empatia, sem criticá-la por acreditar em algo que ouviu, sem discutir, sem se sentir ofendido, escutando, explicando, sendo claro e simples, mostrando a importância e defendendo a vacina”, orientou.
Como as questões relacionadas à vacinação, incluindo as baixas coberturas, estão para além da Covid, conhecer e entender os calendários vacinais é fundamental. Foi sobre isso que Flávia Bravo falou, apresentando o que já temos e o que teremos de novidade em um futuro próximo.
Ela destacou os calendários existentes e as diferenças entre eles. “Enquanto o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde tem como foco a proteção coletiva, os calendários da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) têm como foco a proteção individual”, explicou.
Roda de conversa em pneumologia
Já a pneumologia foi tema de uma roda de conversa que reuniu Ana Alice Parente, Fátima Bazhuni Pombo Sant’Anna, Paula Nascimento Maia e Clemax Sant’Anna. A partir do estudo de um caso grave de pneumonia, com diversas imagens e sua evolução, eles debateram sobre diagnósticos possíveis, manejo clínico, exames, medicamentos e internação.
“É muito positivo discutir problemas realmente frequentes na pediatria. Doenças que frequentemente acometem as crianças e que nos lembra que a saúde deve ser pensada como algo único. O pediatra está sempre buscando conhecimento e é uma excelente oportunidade pode fazer isso aqui com vocês”, disse Clemax Sant’Anna.
Hematúria, o que será?
Estudos de caso também estiveram presentes no último simpósio de Pediatria do VII Congresso Médico Unimed-Rio. Franklin Hernandez fez uma apresentação sobre hematúria, abordando definição, classificação, investigação clínica e diagnóstica e tratamento. Na sequência, Adriana Fonseca e Christianne Diniz partiram de estudos de casos em que a hematúria estava entre os sintomas iniciais para falar de Lúpus e Vasculite por IgA, respectivamente. Lembram sobre os cuidados com uso abusivo dos corticoides e de exames diagnósticos desnecessários. Em suma, a anamnese bem colhida e o exame físico são peças-chave no diagnóstico, conduta terapêutica e acompanhamento, além claro, fontes da relação médico-paciente e sua família baseadas na ética e compromisso empático na qualificação da assistência à saúde.