Como o título sugere, o painel trouxe diversos temas da cardiologia para serem debatidos por renomados profissionais da Cardiologia no Brasil.
A arritmologista Ana Inês Bronchtein abordou em profundidade a avaliação e a investigação do paciente com palpitação. “A palpitação é um sintoma muitas vezes subjetivo. É preciso entender se é uma palpitação taquicárdica, se é extrassístole ou se é um paciente com quadro de ansiedade, por exemplo”.
Do ponto de vista investigativo, o mais importante para o especialista é o monitoramento da palpitação. “Qual a expressão eletrocardiográfica desse sintoma? É importante correlacionarmos o sintoma ao evento”. Ana citou que há mais de 15 anos é utilizado o monitor de eventos por tempo prolongado para identificar morfologicamente o tipo de arritmia, sua origem, se é atrial ou se é ventricular.
“Relacionamos esse tipo morfológico com alguma doença de base ou com um coração estruturalmente normal. O principal fator que define o início do tratamento é se a pessoa tem cardiopatia estrutural ou se ela tem sintomas. Todas as arritmias podem dar palpitação, mas, por exemplo, é possível haver uma fibrilação artrial assintomática. Então, é necessário o registro eletrocardiográfico, de preferência prolongado, desse evento”, destacou.
Ana também indicou quando a investigação precisa ser aprofundada para obtenção de diagnóstico em casos de fibrilação artrial, a arritmia mais prevalente no mundo e que traz sempre a preocupação pelo risco de embolização.
“A fibrilação artrial é considerada hoje uma epidemia, e está relacionada ao envelhecimento. Assim, para idosos acima de 65 anos, principalmente os com comorbidades, a recomendação de todas as Sociedades Mundiais de Cardiologia é que seja feito um screening ativo. É uma busca ativa, de preferência com eletrocardiograma”, disse.
A partir do diagnóstico, o tratamento com anticoagulantes deve ser iniciado. “O tratamento é capaz de mudar o desfecho, evitar um evento embólico, morte ou insuficiência cardíaca. A fibrilação artrial é uma doença metabólica e associada a desfechos cardíacos múltiplos. Até mesmo a demência está relacionada a ela, por isso a importância do diagnóstico apropriado”, explicou.
Para definir a estratégia de tratamento do paciente, incluindo controle de frequência e de ritmo foi levantada a hipótese de ablação como primeira escolha de tratamento.
“Alguns estudos mostram que a ablação tende a mostrar bons resultados, mas não temos grandes estudos confirmando isso, com alguma correlação estatística. No entanto, notamos que com a ablação há diminuição de casos de hospitalização, passamos a ter eventos menos frequentes, e quando há, a reposta à medicação é melhor. Quando a ablação é indicada mais precocemente, com o paciente com pouca cardiopatia atrial, os resultados são melhores. De forma resumida, a ablação é indicada para o paciente sintomático com fibrilação atrial paroxística, preferencialmente que tenha risco de insuficiência cardíaca. Temos que compartilhar com o paciente essa decisão de utilização, uma vez que há opção do uso de medicamentos, que deve ser considerada”, finalizou.
A Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP)
Outro ponto debatido foi a Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP), condição que tem ganho cada vez mais atenção por conta do aumento do número de casos, e que nem sempre é de fácil diagnóstico. Então, quando devemos pensar, investigar e como tratar a ICFEP?
O professor Evandro Tinoco Mesquita trouxe seu ponto de vista: “Tínhamos dificuldade em fazer o diagnóstico da ICFEP, que é uma síndrome clínica em que o paciente tem uma alteração estrutural ou funcional, junto com a alteração de congestão”.
“Para investigação, é necessário num primeiro momento uma boa ecocardiografia padronizada, para que tenhamos confiança nos dados e até mesmo um eco de esforço para possibilitar o estudo da função diastólica”, disse.
Evandro lembrou ainda a importância em considerar as características da população mais acometida, os idosos, na jornada do tratamento: “Estamos lidando com uma população idosa. Então é importante fazer uma avaliação das comorbidades ou multimorbidades. O segundo ponto é avaliar se este é um indivíduo frágil e o terceiro ponto é avaliar as síndromes geriátricas. O cenário positivo é que temos como opções de tratamento novas drogas que efetivamente podem mudar o desfecho clínico, em particular as glifozinas, são consideradas seguras para a população idosa”.
“Infelizmente, a ICFEP é incurável, então é importante envolver a família no tratamento. Como se trata de uma doença progressiva e sintomática, em algum momento será necessário o suporte paliativo. Em pacientes jovens, pode ser considerada a opção de transplante”, ressaltou.
Os especialistas debateram ainda sobre a importância do investimento na construção de Centros de Doenças Raras, na aprovação de novas drogas na área da cardiologia e sobre as novas Diretrizes Americanas no tratamento da IC, além dos tipos de avaliação se funcional ou anatômica, considerando casos de pacientes com ou sem angina.